quarta-feira, 22 de julho de 2009

Les Nouvelles Esthétique

Entrevista dada por e-mail para a Jornalista Fernanda Danneman
Revista “Les Nouvelles Esthétique” - Curitiba 6/9/2008.

LNE - Os médicos que vendem cosméticos são um fenômeno em crescimento? Sobretudo onde? Mas isso não seria contra a ética?

Lucia F. Em todo mundo. Porém isso é mais significativo nos Estados Unidos. No Brasil, a especialidade de dermatologia há 15 anos, não atraía o estudante de medicina.
Hoje a dermatologia está entre as especialidades mais concorridas. Do ponto de vista ético, espera-se do médico uma atitude imparcial com relação à medicação receitada. Vender uma linha cosmecêutica no consultório paga as despesas da clínica. Além disso, o paciente prefere gastar dinheiro com as rugas em volta dos olhos, do que com a vermelhidão de uma eventual psoríase.
O médico recebe o dinheiro do tratamento das rugas à vista. Porém para pagar o tratamento da psoríase, o paciente procura um convênio. Para alguns dermatologistas, é um verdadeiro desafio, balançar corretamente os dois mundos: assumir a prática mais comercial da profissão, ou a parte mais acadêmica.

LNE - Qual o perfil do bom dermatologista especializado em cosmetologia? Como não cair nas mãos de um profissional que, para ganhar dinheiro, convence os pacientes a fazer procedimentos que, na verdade, não são necessários?

Lucia F. Imparcialidade, conhecimento e experiência. Só existe uma maneira de resistir a um profissional antiético, muita informação e altas doses de auto-estima. A razão de eu escrever meu livro foi: mostrar ao consumidor que informação é um poder de barganha que ele tem nas mãos.

LNE - Cosméticos e cremes produzidos na Europa (e, portanto, direcionados a pessoas que vivem em climas diferentes do nosso, e com características físicas também diferentes) são indicados - ou ao menos, podem ter bons resultados entre as brasileiras?

Lucia F. A formulação dos cremes vendidos na Europa não é muito diferente dos cremes vendidos aqui. O fundamental é entender que a pele muda de acordo com as estações do ano. Na página 146: “tipo de pele não é estático, o que você vê hoje, pode não ver amanhã, nem no próximo mês ou talvez na próxima estação”. Para conseguir bons resultados é preciso encontrar um produto que funcione e se concentrar nisso.

LNE - Se as pesquisas não apontam nenhuma substância capaz de acabar com a celulite, como explicar o crescimento do mercado anticelulite? Emagrecer é o melhor remédio?

Lucia F. A possibilidade de um creme para celulite funcionar, é muito pequena. O fato é que nós mulheres, acreditamos nessa pequena possibilidade. E a indústria cosmética sabe explorar essa fraqueza feminina ao máximo.
Exercício físico, sim, é um bom remédio. As porcentagens de ingredientes antioxidantes nos cremes amenizam as rugas. Portanto, não é total desperdício usá-los, além de contribuírem para melhorar a aparência da pele.

LNE - Quais as maiores ilusões vendidas pela propaganda estética? (Massagens emagrecedoras, cremes que combatem a flacidez facial, xampus, com efeito, "chapinha"? Aparelhos estéticos milagrosos, etc.?

Lucia F. É complicado enumerar as vastas promessas das propagandas dos produtos cosméticos. Departamentos de marketing são pagos para serem eficientes e criativos. Massagem melhora a circulação do corpo, desincha. “Back massagem” faz um bem tremendo para cólicas menstruais, desde que o massagista conheça anatomia e possua um toque firme.
Não existe legitimidade científica em cremes para combater flacidez facial. O colágeno é uma molécula muito grande, incapaz de penetrar na pele, atravessar toda a epiderme ir até a derme e se juntar ao colágeno natural.
A criatividade dos marqueteiros é estupenda. Minha pesquisa é constante para encontrar argumentos e rebatê-los. Aparelho de laser nas mãos de um médico bem informado e experiente pode trazer ótimos resultados para manchas na pele, cicatriz de acne e até para as rugas.

LNE - No livro está escrito: “... apesar dos preços absurdos dos tratamentos estéticos e os resultados serem quase imperceptíveis..." Os tratamentos estéticos não funcionam? O que podemos esperar deles?

Lucia F. Tratamentos estéticos são coadjuvantes para o emagrecimento. Elaborados com massagens, máscaras de argilas etc., melhoram a aparência da pele e contribuem para nosso bem-estar. Porém sozinhos não fazem milagres, não quebram células de gordura, etc. O profissional ético pede para a cliente praticar uma atividade física.

LNE - Quais os cuidados que devemos adotar antes de pagar por um tratamento estético, seja ele facial corporal ou capilar?

Lucia F. Ser realista e não esperar milagres. O consumidor deve conhecer a formação do profissional de beleza que irá executar o serviço.

LNE - Aparelhos que prometem emagrecimento por meio de choques "quebrando as células gordurosas" não funcionam?

Lucia F. Nenhum aparelho quebra célula de gordura com choques, essa afirmação, além de não ter comprovação científica, não é indicada pela ANVISA.
Um princípio semelhante ao aparelho que quebra cálculos renais é encontrado aparelho chamado “ultrashape”. Por meio da emissão de ondas acústicas as células gordurosas vibram até romper-se. Mas é bom deixar claro: esse aparelho não é autorizado pela ANVISA.
O médico do hospital de clínicas de São Paulo, Dr. Marcio Mancini e o Dr. Raul Dias dos Santos do INCOR, são contra a utilização desse aparelho. Eles dizem: “O ultra-som não é seguro nem eficaz. Pode ocorrer o acúmulo de gordura no fígado, gerando a pancreatite e causar problemas para os pulmões”.

LNE - Então não existe creme que possa retardar o envelhecimento? Ou seja, tudo o que os cremes fazem é melhorar a aparência da pele desde que haja uso continuado. Isso, já não é uma grande coisa?

Lucia F. Creme nenhum retarda o envelhecimento da pele. Uma composição razoável de antioxidantes ajuda a reduzir os danos dos radicais livres bem como os danos do sol.
Mas não se sabe ao certo, qual a porcentagem adequada a ser utilizada, nem por quanto tempo o ingrediente atua na pele, 20 minutos, uma hora ou uma semana.
A revista americana Consumer Reports, publicou uma pesquisa, onde alguns cremes diminuíram em 10% as rugas na pele. Mas essa descoberta é quase imperceptível a olho nu. Para os pesquisadores é maravilhoso, porém, nós consumidores, desejamos 40%, 50% de melhora; espera-se que um creme reconstrua a pele por inteiro. Isso, infelizmente ainda não existe.

LNE - O que devemos considerar antes de escolher um creme? É perigoso escolher um creme ou ir ao dermatologista é essencial?

Lucia F. Conhecer seu tipo de pele, ler a lista de ingredientes antes de comprar um produto cosmético. O filtro solar deve ser o produto cosmético mais importante a ser adquirido. E ter em mente que nenhum ingrediente é milagroso, essa “verdade” não existe. Cânfora, mentol e as fragrâncias são os ingredientes mais problemáticos.
Informação antes de comprar cosmético e escolher um médico, é fundamental.

LNE - Se ninguém tem pele normal por muito tempo, isso significa que sempre devemos estar mudando os tratamentos (sabonetes, cremes e filtros)?

Lucia F. A meta dos fabricantes de cosméticos é fazer com que o consumidor alcance o estado da pele normal. A verdade é: uma considerável parcela de mulheres tem peles ótimas. Para limpar, hidratar, controlar oleosidade, existe produtos excelentes no mercado. O tratamento deve ser descartado quando não der resultado positivo ou irritar a pele.

LNE - Você diz no livro: "é preciso estar ciente de como a cosmética pode danificar a sua pele". Como isso ocorre?

Lucia F. Sim. A indústria danifica sua pele, devido a promessas impossíveis de serem cumpridas pelo produto. O consumidor quer fatos e não simplesmente exageros, ou seja, as promessas devem ser bancadas por benefício realizável.
Eu brigo com acnes desde a adolescência. Foi buscando informação que o problema foi atenuado. Se tivesse o conhecimento que tenho hoje, jamais teria usado cremes oleosos nem exposto a pele ao sol em exagero. Existem produtos bem formulados, mas também há muita porcaria.

LNE - Sono e filtro solar são as melhores armas contra as rugas? Qual o lugar do hidratante nesse ranking? E qual a maneira correta de escolher um filtro solar, ou seja, quais os fatores que devem ser considerados?

Lucia F. O envelhecimento é um processo muito complexo, os médicos sabem disso. O estresse, cigarro, maus hábitos alimentares, vida sedentária e os danos causados pelos raios solares, são os grandes vilões do envelhecimento.
O hidratante é designado para restituir os lipídios da pele. Pele oleosa já produz lipídios de sobra, não precisa de gordura extra contida na maioria dos cremes. Hidratante é indicado para peles secas e com rugas.
Um filtro solar precisa proteger a pele contra os raios UVA e UVB. O número do FPS (Fator de Proteção Solar) escrito no rótulo do produto é a garantia contra os raios UVB. Porém FPS é só parte da história. Não há nenhuma indicação nos rótulos sobre como é feita a proteção dos raios UVA. E são esses raios que destroem o colágeno e causam câncer. A única saída então é ler a lista de ingredientes. Os ingredientes eficientes contra UVA são: Avobenzeno, dióxido de titânio e óxido de zinco. Isso está muito bem explicado na página 80 e 81 do livro.

LNE - Já que não existem produtos totalmente livres de causar reações alérgicas, como podemos nos precaver?

Lucia F. Experimentando o produto. Não há outra maneira. Os mais problemáticos são cânfora, mentol e as fragrâncias Os tipos de álcool isopropílico e álcool etílico também irritam a pele. Se um produto cosmético causar alergia, a atitude correta é evitá-lo.

LNE - No caso dos óleos essenciais?

Lucia F. Algumas fragrâncias espalhadas na pele causam muita irritação, é fato, não há o que discutir. Os aromas podem proporcionar bem-estar e serem bons para olfato, mas para a pele causam problemas. O óleo para massagem não deve irritar. E a fragrância deveria apenas perfumar o ambiente e não a pele.

LNE - Ao ler seu livro, fiquei com a idéia de que "produto natural", na verdade, é um perigo. Você poderia explicar melhor se vale ou não a pena apostar neles?

Lucia F. O termo Produto Natural é uma associação feita ao movimento Green. É uma estratégia de marketing usada pela indústria cosmética.
A primeira empresária do ramo a vislumbrar o capitalismo verde, muito antes que se tornasse uma febre, foi Anita Roddick da Body Shop (inglesa), na década de 70.
Os extratos das plantas eram comprados diretamente dos produtores de países de terceiro mundo.

Sua fórmula era supostamente ética, devido ao fato dos cosméticos não serem testados em animais. Os produtos da Body Shop foram empacotados e promovidos de forma inteligente, para emitir às mulheres uma mensagem de frescor: “nada lhe trará de volta a juventude, mas esses produtos dão a sensação de pureza a respeito de si mesma”. Hoje, os fabricantes de cosméticos já bem estabelecidos no mercado, apenas imitam essa estratégia. A Body Shop chegou a ter 2.000 lojas em 53 países e foi vendida para a L’oréal por (US $1.1 bilhão).

Cosmético Natural significa incluir extratos de planta na formulação do produto juntamente com uma enorme lista de ingredientes sintéticos. Quando um extrato de planta é adicionado na formulação cosmética, é preservado e estabilizado, isso faz com que ele perca quase todas as suas características naturais. Poucos ingredientes naturais possuem comprovação científica sobre os benefícios para a pele. Porém, o termo está sacramentado pelo mercado, vale à pena apostar naqueles que possuem comprovação.

LNE - Qual é o maior perigo para os cabelos: os produtos químicos ou os profissionais que os manuseiam? E por quê?

Lucia F. Todo produto químico prejudica o cabelo, resseca, queima, alguns danificam o couro cabeludo. Isso é fato. O que faz com que esses problemas sejam amenizados é o Know-How do profissional. Sua experiência e o conhecimento, tanto sobre a estrutura do fio do cabelo, como a formulação química do produto e os seus efeitos no cabelo. O perigo pode estar num profissional mal treinado quando ele alterar as formulações dos produtos sem ter noção de química. O cliente pode ficar careca e ter problemas sérios de irritação no couro cabeludo.

LNE - Abrir um salão no Brasil não é tarefa difícil, mas crescer, sim. O que é fundamental, hoje em dia, para fazer o negócio crescer? A realidade do mercado brasileiro é próxima ou distante do americano e europeu? Você poderia traçar um paralelo?

Lucia F. No Brasil, ainda não brigamos pelo cliente como deveríamos. Nos Estados Unidos e Europa a competição é super acirrada, cada cliente vale ouro. Além de um bom serviço, é dado mais ênfase na venda de produtos no salão e o cliente é mais bem informado. Num cenário assim, o Know-How do profissional é valorizado.

Mas, verdade seja dita, nós também temos profissionais talentosos. A qualidade na prestação dos serviços em alguns salões de Curitiba, São Paulo, Rio e Porto Alegre, não perdem para o mercado Europeu e Americano. Porém, em algumas cidades brasileiras, os serviços deixam a desejar, devido ao treinamento ruim que o profissional de beleza recebe.

Telefonista e manicure são os profissionais que o cliente faz o primeiro contato em um salão. Porém uma pesquisa feita por uma escola de Curitiba revelou que 60% dos problemas nos salões eram as telefonistas mal-treinadas. A esterilização dos alicates de cortar cutículas, ainda não é hábito para muitas manicures.

LNE - O que se deve esperar de um profissional de beleza hoje em dia, em termos de capacitação, especialização e etc.? Onde está o melhor do mercado brasileiro? Quais conselhos você daria a quem já esteja no ramo ou queira entrar?

Lucia F. A diferença entre o cabeleireiro que arruma o cabelo da atriz da novela da TV Globo no Rio de Janeiro e o cabeleireiro de qualquer outra cidade brasileira é: conhecimento, treinamento e experiência. Tanto um como o outro não usa tesoura ou xampu diferentes. Mas o estilo de corte de cabelo que aparece na novela é repetido nas ruas. Sem dúvida, o melhor mercado está no Rio de Janeiro e São Paulo.
Conselho: Teoria e prática ensinadas na escola são somente o sumário de um livro. O conteúdo aprende-se trabalhando, pondo a mão na massa.
Detalhe: no livro chamado aprendizado, as páginas nunca terminam.

Lucia Fagundes

MITO ou VERDADE?

Seguir algumas regras antes de comprar xampus, condicionadores, etc., ajuda economizar dinheiro e evita frustração.

Porém é preciso derrubar alguns mitos:

1 – Algumas empresas alegam possuír Ingredientes Secretos na formulação do xampu.

- MITO

• Nenhuma empresa de cosmético possui fórmula misteriosa. Existem quatro grandes laboratórios fornecedores mundiais de matéria prima para fabricar xampu. Esses ingredientes estão disponíveis para toda empresa de cosmético.

• É exigência da ANVISA mostrar os ingredientes no rótulo.

• Além do mais, comparando as listas de ingredientes de várias marcas de xampus, é fácil observar que praticamente não existem diferenças.

• Não importa a quantidade dos ingredientes extravagantes usados na formulação de um xampu caro, eles sempre acabam sendo retirados na hora de lavar ou escovar o cabelo.

2 – Comprando o xampu que a modelo mostra no comercial da TV, meu cabelo ficará igual ao dela!
– MITO

•Quando o cabelo magnífico de uma modelo é mostrado em anúncios de revistas ou TV, toda aquela beleza nunca é resultado apenas do xampu que ela usa.

•Na verdade, a genética foi generosa com a modelo, lhe dando um cabelo esplêndido.

•Sem contar às horas que ela passou nas mãos de um talentoso e experiente cabeleireiro. Iluminação do estúdio perfeita, excelente fotógrafo e muito, mas muito tratamento digital. Tudo isso é feito antes que a propaganda venha a público.

•O que faz a grande diferença é o estilo correto de corte, tintura ou "hair styling" no cabelo. Aprender a técnica da escova certa para o cabelo é mais importante que gastar fortunas em produtos.

3 - Xampu faz cabelo crescer.

– MITO

Não existe xampu capaz de fazer o cabelo crescer.
Um produto chamado Regaine, é vendido contra calvície, porém é agente farmacêutico (remédio) e deve ser receitado por médicos. Esse medicamento pode também apresentar inúmeros efeitos colaterais.

4 - Deve-se mudar a marca do xampu a cada 3 meses.

MITO -

O cabelo e o couro cabeludo não se adaptam a nenhum xampu. Cabelo é uma estrutura morta, e coisa morta não se adapta a nada.

VERDADE –

Excesso de condicionador, emoliente, com o passar do tempo pode congestionar os fios. O acúmulo desses ingredientes nos fios do cabelo são facilmente retirados lavando o cabelo com um xampu de marca diferente do condicionador.