quinta-feira, 15 de julho de 2010

Arábia Saudita - break em cosméticos

Nem sei a razão direito, mas o fato é que não mencionei aos leitores do meu blog sobre as minhas viagens.

Alguns amigos insistem para que eu escreva um livro somente sobre os lugares onde morei.
Minha primeira experiência fora do Brasil, já faz algum tempo e foi para a Arábia Saudita.
 Morei em Riad, capital da Arábia Saudita de 1993 a 1994. Foi uma experiência no mínimo interessante.
A economia brasileira experimentava uma inflação de 75% ao mês.

Quando você vive fora de teu país, é natural comparar tua cultura e a do outro país, bem como a cultura de outras nacionalidades que viviam na Arábia Saudita: alemães, americanos, belgas, noruegueses, egípcios, indianos e outros.

Temos uma visão diferente do próprio país quando estamos longe dele. É igual você filmar uma festa com uma câmera no andar superior, que está acontecendo no andar térreo. Enxergamos detalhes que nunca seríamos capazes de observar, se estivéssemos envolvidos com a bagunça da festa. Descobrimos nossas fraquezas, notamos os pontos positivos dos outros povos, como por exemplo, não chegar atrasado a compromissos, organização das cidades, etc.

No primeiro mês fui ao supermercado e levei um susto: os preços não mudavam. Foi quando percebi que a inflação já havia permeado minhas entranhas. O Brasil vivia uma crise terrível. Quem tem hoje 40 a 45 anos, faz uma idéia do que estou falando. Não tenho saudade dessa época.

Em Riad, as pessoas saiam dos Shoppings Centers, abarrotadas de sacolas, compravam para valer, e não era véspera de natal. Notei pela primeira vez o consumismo.

A Arábia Saudita é um país muçulmano, muito restrito com relação à liberdade da mulher, aliás, em país Árabe, mulher não exerce a liberdade de ir e vir.

Na cidade de Mecca, está localizado o Templo Sagrado dos muçulmanos: é uma enorme Mesquita com uma enorme pedra preta, ao ar livre. Segundo a tradição religiosa deles, todo o muçulmano, uma vez na vida, deve dar sete voltas ao redor dessa pedra. Um canal de TV mostra 24 horas, os fiéis rezando e circundando essa pedra. Quem não é muçulmano deve ficar kilômetros de distância, e não é permitido entrar na cidade.

O país é um dos maiores produtores mundiais de petróleo. Não é populoso. Portanto não existe pobre. Têm três cidades importantes, Riad a capital, Jeddah onde está o porto que transporta o petróleo; Damman, que é uma praia, mas nada de mulher com biquíni na areia. Em Jeddah tem praia, em alguns pontos isolados a mulher pode usar biquíni.

Todos os estabelecimentos comerciais fecham quatro ou cinco vezes ao dia, por 30 minutos. É a hora da prece ao Alah. Caso você se encontre no supermercado fazendo suas compras, deverá terminar tudo rapidinho, e sair. Ou eles te colocam para fora de qualquer jeito. No início, isso não me incomodava, depois é chato. Pois você nunca sabe o horário que vai fechar. Os horários de rezar seguem a posição do sol. O dia de descanso é a sexta-feira, domingo é um dia normal de trabalho.

No mês do Ramadan, que seria para os católicos a quaresma, todos os mercados e Shopping Centers fecham durante o dia. Abre apenas após o sol ir embora, mais ou menos em torno das 6 horas da tarde.

Enfim o país respira religião. Você é obrigado a respeitar as regras religiosas. As mulheres estrangeiras devem vestir a roupa preta e cobrir o cabelo para sair em público. Algumas empresas recomendam não viver lá, mais que cinco anos. Eles afirmam que pelo fato de ser um estilo de vida muito contrastante com o ocidente, depois de muito tempo lá, algumas pessoas passam a adquirir comportamentos esquisitos.

A mulher jamais, nem por sonho, pode usar saia, blusa de alcinha, calça comprida ou mostrar o tornozelo; para os muçulmanos, é a parte mais sex da mulher. Comprei saias longas, até o dedão do pé, blusas de manga comprida. Na Arábia Saudita a roupa preta que a mulher usa por cima da roupa normal é chamada de Abaia. É importante frisar que em outros países, essa roupa muda de nome. No Afeganistão, por exemplo, chama-se burca. Abaia é preta, burca pode ser azul ou cinza.

Em público, a mulher precisa cobrir o cabelo, ou no máximo para as estrangeiras o véu deve estar dentro da bolsa, sempre. Ele é mais importante que a carteira de identidade. Existem dois tipos de polícias: civil e religiosa. A polícia religiosa não trabalha tempo integral. Portanto você põe o véu na bolsa, quando vai ao Shopping Center, se tiver o azar de encontrar um Murtawa, (policial religioso), ele irá berrar para cobrir o cabelo. Caso não tenha o véu, pode ir presa.

Os estrangeiros moram em condomínio fechado com supermercados, farmácia, piscina e quadras esportivas. Lá dentro a mulher pode vestir-se normal, usar biquíni na piscina etc. Estão localizados longe da cidade, praticamente no meio do deserto. No meu condomínio, um ônibus levava as mulheres para fazer compras duas vezes ao dia. Aliás, na Arábia Saudita, o passatempo da mulher é comprar, não existe cinema, teatro, bar. E na época, não existia a internet.

É um país onde o estrangeiro é o empregado das empresas locais. Os sauditas são os donos do dinheiro. A maioria é riquíssima. Contratam os estrangeiros para fazer de tudo para eles, desde alguém para limpar o chão até construir redes de telecomunicações ou ensiná-los a jogar futebol.

A bebida alcoólica é proibida. Porém, é possível comprar bebida no câmbio negro. Os estrangeiros aprendem fazer vinho e cerveja em casa. Os suecos e alemães eram especialistas em produzir shinaps (uma bebida fortíssima). Concluindo, da-se um jeito de ficar bêbado, o Alah queira ou não.

Eu não falava uma palavra em inglês. Descobrimos uma escola americana feminina. Detalhe: as escolas são separadas em feminina e masculina.

Um fato bem hilário aconteceu na escola de inglês: um dia cheguei à sala de aula, encontrei minhas colegas de classe, todas amontoadas numa cadeira, olhando para fora, perguntei se o Sadan havia soltado um míssel? (Na época ele estava na ativa). Não era nada disso. As janelas eram todas pintadas de preto. As mulheres não podem ser vistas da rua. E as janelas eram altas. Mas em uma das janelas a tinta preta havia descascado, formando espaços transparentes no vidro. As alunas olhavam os transeuntes na rua por meio daqueles buraquinhos. Era a forma de transgredir e se divertir, olhando o mundo lá fora.

No meu condomínio havia mulheres estrangeiras que viviam em Riad por 10 anos, porém nunca tinham visto o rosto de uma mulher saudita, (elas cobrem o rosto totalmente quando saem na rua, usam três véus). Fui praticamente à privilegiada de poder ver o rosto de uma mulher saudita, elas são muito lindas.

Conheci uma senhora saudita escritora e a filha dela, na escola. Ela me disse que as mulheres eram proibidas de entrar em bibliotecas públicas. Existiam bibliotecas femininas, mas muito precárias. Ela viajava para os Estados Unidos, para buscar educação e informação. A filha dela adorava ir para o Egito, na balada para dançar.

Fiquei amiga de uma noiva, se preparando para casar. Após o casamento, trouxe o álbum de casamento para nos mostrar. Seu vestido era branco, longo e grinalda na cabeça. Contou-me que quase todas as mulheres se casavam de branco, com grande festa, onde inclusive, era servida bebida alcoólica. Os casamentos são arranjados pelas famílias. Casam-se entre primos, minha amiga havia se casado com o primo.

O noivo precisa pagar um dote para a família da noiva. Um rapaz vendedor de ouro, em uma loja, perguntou ao meu marido: “Quanto custa uma mulher no Brasil? Meu marido disse que o preço de uma mulher no Brasil vale uma boa conquista. Ele respondeu: “Já que é tão fácil assim, quero ir ao Brasil buscar uma mulher”.

Mulher não dirige. Porém uma colega tinha moto. Perguntei, “quando dirige a sua moto?” No deserto, o pai
havia ensinado. Quando viajava para Londres no verão, levava a moto para andar lá. Apesar de tanta regra, na escola de inglês, percebi que a maioria das regras islâmicas eram mais no papel que na prática. Nos finais de semana, os rapazes sauditas jovens, se divertiam dirigindo caminhonetes com tração nas rodas, pelas dunas de areia.

O nosso passatempo era fazer piquenique no deserto. Presenciei e senti na pele uma tempestade de areia no deserto. Todos os orifícios do teu corpo são literalmente preenchidos com areia. A areia fina deixa a pele marrom. A barraca queria voar, as mulheres faziam peso dentro da barraca e os homens lá fora segurando e levando lufadas de areia no rosto. Durou uns 30 minutos, o vento assobiava nos ouvidos. É uma sensação amedrontadora e incrível.

Devido à vastidão de luz existente no deserto, tiramos fotos maravilhosas.

Andando pelo deserto, imagina-se que a última coisa a encontrar seria uma planta verde? Ledo engano, no meio do nada, me deparei com uma planta verdinha, tenho as fotos. À noite, o vento carrega gotas de orvalho, é o suficiente para a mãe natureza entrar em ação.

Tenho ótimas lembranças da Arábia Saudita. Fizemos amizades que mantemos até hoje. E foi o lugar onde iniciei meu aprendizado de inglês. Não era o lugar ideal para aprender inglês, mas quando tem força de vontade, aprende inglês até na Arábia Saudita.

1 comments:

Gaspinha disse...

Oi, Lucia

Seu blog fica cada vez mais interessante!
Adoro viajar e agora vc posta sobre lugares diferentes.....
Conta mais!!!!!
Bjks

http://gaspinha.blogspot.com