segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Irã

Em todo lugar existe algo de bom. Mas passei por várias situações desagradáveis. Morando em vários países diferentes aprendi que o importante é guardar na memória a experiência positiva e esquecer o ruim.
A Revista Veja fez reportagem sobre o Irã. Glória Maria também fez uma matéria para o Fantástico. Essas reportagens são bem lustrosas. Os jornalistas não podem emitir opinião, somente informar.
No momento o Irã está nas manchetes devido à mulher Sakineh Mohammadi Ashtiani, mantida presa por trair o marido. Prometem matá-la a pedradas.

Morei em Teerã, a capital do país três meses.
Cheguei ao Irã no verão. Temperatura de 45 graus. Quando o avião aterriza, a aeromoça pede para as mulheres vestirem o “muslim costum”, fantasia muçulmana. Véu na cabeça, uma bata comprida até o pé.

Dentro do aeroporto em uma sala fechada, esperei pelas bagagens. Na sala não havia ar condicionado, eu coberta dos pés à cabeça, comecei a derreter de calor. Lembrando que isso tudo é depois de quase 30 horas de vôo. A bagagem demorou duas horas.

Com as bagagens na mão, mais uma hora de espera na fila do controle de passaportes. Quando consegui chegar ao saguão do aeroporto para encontrar meu familiar, um verdadeiro caos instalado. Os parentes e amigos vão até o aeroporto buscar seus familiares. E todos gritam ao mesmo tempo.

No Irã a língua é o farsi. É uma língua onde o som das palavras sai da garganta, tem-se a impressão de que eles brigam quando conversam entre si.
Observe a pronúncia do nome do presidente, Mahmoud Ahmadinejad, o som mais forte da palavra é formado na garganta: Mahm, Ahm.

No meio daquela gritaria tentei me acalmar e procurei por um telefone.
Surpresa! Cartão telefônico não existia. Após mais uma hora, encontrei meu familiar. Estava literalmente um bagaço. Foram minhas boas vindas ao Irã.
O livro “lonely planet” recomenda a quem ir ao Irã é: levar muitos livros.

O transporte público é precário. Portanto a solução é usar taxi.
Chamar taxi por telefone era complicado, os atendentes não falam inglês. Do local onde estava morando, caminhava até um ponto de taxi. Em uma cabine, um senhor chamava por rádio o motorista. Mas eu sempre era obrigada a esperar. Eu percebia que mesmo pessoas que chegavam depois de mim eram atendidas. Motivo: os homens sempre são atendidos antes da mulher. Um dia cansada, sentia com um calor terrível. Deixei a educação de lado e falei vários impropérios em português para aquele homem.

Na comunicação apenas 7% é fala, o resto é expressão corporal, fisionomia, etc. Ele entendeu tudo o que falei. Não esperei mais. Porém, mandava os piores carros. E numa ocasião mandou um carro sem a porta do passageiro. Aceitei. Deixei aquele homem rindo atrás de mim e passei pela cidade de Teerã, por ruas com engarrafamento caótico, num taxi sem porta. Sobrevivi para contar essa história a vocês.

Gosto de caminhar. Do apartamento onde fiquei, andava até o centro da cidade. Um dia, assim que pus o pé na rua, os carros buzinavam para mim. Descobri depois a razão. Estava calçada com um tênis de cor vermelha. Cores chamativas são as cores da prostituta.

Estava junto com minha filha, e os motoristas devem ter concluído de que havia cometido um engano na escolha da cor do calçado, sossegaram as buzinas. Dei boas risadas, quando soube que a cor do meu tênis era o real motivo das buzinadas.

Numa de minhas andanças, assisti outra cena interessante:
Além do véu na cabeça, a mulher deve cobrir o traseiro e tornozelo. Naquele calor infernal, algumas mulheres usam calça capri. O tornozelo fica descoberto.

Na frente de uma loja de roupa feminina, uma moça elegantemente vestida e maquiada, berrava com um policial. Ele batia nas pernas dela com uma vara, (ou cassetete). A mulher o enfrentava e berrava mais alto que ele. Mesmo levando varadas nas pernas, se impôs, a ponto de o policial desistir de berrar com ela e ir embora. Entrei na loja, ela estava vendendo. Disse-me ser a dona da loja, e explicou o motivo da bronca do policial, era que a roupa dela estava muito sensual. A mulher tinha um rosto lindo, e para nossos padrões de vestir, estava toda coberta.

Atividades que fiz no Irã: fomos à praia, visita a Esfahan e Persépolis.

Esfahan – É uma cidade que fica a 340 km de Teerã.
Alugamos um ônibus. A viagem é enfadonha. Quase só deserto e areia no caminho. Mas passamos pela cidade de Qom, onde esta o mausoléu do Aiatolá Khomeini.
Esfahan é uma cidade histórica muito linda. O artesanato local é especial, muita pintura feita em cerâmica e mármore.

Entrei pela primeira vez em uma mesquita. Apesar da temperatura de 48 graus, dentro da mesquita, 20 graus. A construção é feita de uma forma toda especial que retira o calor e mantém o ar frio dentro. As abóbodas, o teto da mesquita possui pinturas incríveis. Passei algum tempo apreciando aquela beleza feita pelas mãos do homem. A Mesquita chama-se Sheikh Lotfollah.
As janelas são muito altas, permitindo a claridade natural entrar na Mesquita.

Visitamos uma loja de artesanato, e almoçamos em um restaurante, sentados no chão, em cima de tapetes persas. Comemos o tradicional quebabe, que é espetinho de carneiro, com coalhada e hortelã. Não gosto muito de carne de carneiro, mas experimentar a comida local do país, outros sabores é interessante.
Hospedamo-nos no Abbasi Hotel. Esse hotel tem um jardim muito lindo – à noite o jantar foi servido ao ar livre no jardim do hotel.
Uma ponte muito famosa sobre um rio que cruza a cidade, na Rua Zayandeh. À noite o rio se transforma em um espelho. É possível tirar fotos incríveis.

Praia – a cidade de Teerã é no meio do deserto. Porém no caminho para a praia tem-se a impressão de viajar pelo sul do Brasil. Mato, verde por todo lado.
Quem nos levou de carro foi um Iraniano. Na praia, dentro da casa, usei uma bermuda comprida, camiseta e tirei o véu da cabeça. Lá fora em plena praia, tinha que vestir a fantasia, cobrir a cabeça, etc.
O Iraniano comprou peixe e fez churrasco de peixe, uma delícia.

Uma das situações mais bizarras que vi na vida foi na praia do Irã: numa parte da praia havia uma lona enorme esticada. A lona formava uma espécie de cortina ao ar livre, medindo uns 6 metros de altura por 12 de comprimento. A função dessa cortina era separar homens de mulher. E havia um guarda monitorando, para que nenhum homem pudesse ver as mulheres do outro lado. Biquíni, nem por sonho. Elas estavam todas vestidas, entram na água do mar com roupa.

Persépolis – Sem dúvida a viagem histórica mais maravilhosa de minha vida. Em Persépolis é onde estão as ruínas de um enorme Palácio. Segundo a história, o Alexandre “O Grande” viveu nesse Palácio por um tempo. Também dizem que ele ateou fogo no Palácio.

Ficamos hospedados na cidade de Shiraz. Um guia turístico nos levou de carro até Persépolis. Ele disse que antes da queda das torres gêmeas dos Estados Unidos, muitos americanos visitavam o local. O moço não era nem um pouco simpético ao Sr. Bin Laden. As fotos de Persépolis podem ser vistas no google. Mas ao vivo é uma sensção indescrítivel. A história viva da nossa civilização. Imperadores Dario, Xerxes, escritas cuneiformes. Enfim constatei ao vivo e a cores, a história que estudei decorebada na quinta-série.

E afinal mulher não pode vestir biquini no Irã?
Pode sim. Porém o homem comum não pode ver, somente seus maridos e outras mulheres.
Eu e uma amiga brasileira fomos convidadas para ir à um clube. A frequência do clube é divida em horártios masculinos e femininos. Homem e mulher juntos? não.
O local era uns 60 km de Teerã, 5 estrelas. Piscina, sauna, salão de beleza, um espetáculo.

E as mulheres??? Pelo menos as que estavam lá, lindíssimas!
Corpos sarados, super bronzeadas, só não lembro de ver biquini fio dental, mas as peças não eram grandes. Aliás as mulheres iranianas são muito bonitas. As ricas como em todo lugar, gastam fortunas em cirurgia plástica também.

Salão de Beleza - Para terminar minha visita à um salão de beleza em Teerã.
Foi sem saber, mas meu marido alugou o apartamento em cima de um salão de beleza.

Na rua havia apenas uma plaquinha disrcreta escrito: Beauty Salon.
Apertei a campainhia. A porta abriu e entrei por um corredor longo e escuro. Parecia um local abandonado. Pensei, entrei numa fria!
Essa entrada era só fachada.

Havia outra porta, e uma recepção. Entrei e uma senhora estava fazendo a sobramcelha com linha numa cliente, uma habilidade magnífica e apenas uma manicure. Ainda não consegui me sentir segura. Porém chamaram a recepcionista que falava inglês impecável.

Disse que eu faria apenas uma escova no cabelo. Ela me levou para outra sala, que dava para um salão enorme. Fiquei de boca aberta, era um salão de uns 200 m2, várias manicures, clientes super bem vestidas, barulho de secador. Revistas de moda em inglês, alemão e russo.
As manicures fazendo unhas postiças com todas as maquininhas modernas.
Um salão de nível internacional.

Aparece a “hair stylist” a cabelereira, vestida com uma camiseta super justa preta, um decote caprichado da marca Adidas. Calça de exército verde, e um boné na cabeça, tenis moderninho. Enfim muito elegante.
Simpática, não falava inglês, porém não precisava, entendeu tudo o que pedi para fazer. Minha filha cortou o cabelo, e o corte foi super bem feito. A escova minha também ficou ótima. Não foi exatamente barato. Era um salão high class.

A surpresa maior foi no pagamento, a recepcionista me perguntou em que moeda eu iria pagar? Falei,”o dinheiro iraniano”. Ela me disse que aceitava dólar, euro, etc, as principais moedas. Lá fora, para fazer compras no supermercado, se fosse pagar com dólar, o comerciente era capaz de agredir com palavrões. Porém no negócio de beleza, a coisa estava totalmente globalizada.

Na rua a atmosféra era de um país muçulmano.
Dentro do salão de beleza, o ambiente retratava um país ocidental.

Tem neve no Irã. Em dezembro, a neve deixa a cidade mais alegre.
Muitos apartamentos possuem antena parabólica. Passa TV a cabo americana e inglesa. As festas de fim de ano, acontecem dentro dos apartamentos. São regadas a bebida alcólica, e DVD na TV mostrando o carnaval do Rio de Janeiro. Eis o Irã.

1 comments:

Angélica Adriana Soares de Lima disse...

Olha estou apaixona pelo blog!! As postagens são ótimas,me fez fazer uma reflexão do que leio em revista de moda, atualidades, sites! Por favor, nunca pare de escrever! Pois é tudo que li aqui é maravilhoso. Também gostaria de fazer o seguinte questionamento, o que deve ter de forulação no rótulo das embalagens de xampus para serem boas? Muita obrigada! Angélica Adriana Soares de Lima